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Os festivais religiosos ao redor do mundo proporcionam experiências únicas, repletas de tradição, espiritualidade e cultura. Aqui estão cinco festivais religiosos inesquecíveis:
1. Kumbh Mela, Índia
Você já imaginou participar de um evento que reúne milhões de pessoas em um só lugar, em busca de purificação espiritual, bênçãos divinas e imortalidade? Esse é o Kumbh Mela, o principal festival do hinduísmo, que acontece a cada três anos em uma das quatro cidades sagradas da Índia: Prayagraj, Haridwar, Nashik e Ujjain.
Eu vou contar um pouco sobre a origem, o significado e a experiência de participar desse festival incrível, que é considerado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Se você ama viajar e conhecer novas culturas, não pode perder essa oportunidade!
O Kumbh Mela tem sua origem em uma antiga lenda, que narra a guerra entre deuses e demônios pelo pote (kumbh) que continha o néctar (amrit) da imortalidade, produzido pela agitação dos oceanos. Durante a disputa, que durou 12 dias celestiais (equivalentes a 12 anos terrestres), quatro gotas do néctar caíram na terra, nas quatro cidades onde o festival é realizado.
Desde então, a cada 12 anos, os devotos hindus se reúnem nessas cidades para se banhar nos rios sagrados, onde acredita-se que o néctar ainda esteja presente, e assim obter a salvação de seus pecados e a libertação do ciclo de reencarnação. Além disso, eles também buscam a graça dos deuses e dos santos, que descem à terra durante o festival.
O Kumbh Mela é mais do que um simples banho ritual. É uma celebração da fé e da diversidade, que reúne pessoas de todas as classes, castas, regiões e tradições da Índia e do mundo. Durante o festival, que pode durar de um a dois meses, dependendo do ano e da cidade, os peregrinos vivem em acampamentos improvisados, participam de cerimônias, cantos, meditações, palestras, debates e procissões, e interagem com os sadhus, os ascetas que renunciam à vida mundana em busca de iluminação.
O ponto alto do festival é o dia do banho principal, chamado de Shahi Snan (banho real), quando os sadhus lideram a multidão até o rio, em uma demonstração de respeito e reverência. Nesse dia, a atmosfera é de alegria e devoção, e os fiéis acreditam que estão recebendo as bênçãos mais poderosas.
2. Semana Santa, Sevilha, Espanha
Se você é um viajante que gosta de conhecer as tradições e as manifestações culturais dos lugares que visita, você não pode perder a oportunidade de presenciar a Semana Santa em Sevilha, na Espanha. Esse é um dos festivais religiosos mais importantes e impressionantes do mundo, que reúne milhares de fiéis e turistas a cada ano.
A Semana Santa é a celebração da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, que ocorre na semana anterior à Páscoa. Em Sevilha, essa celebração é marcada por procissões solenes e emocionantes, que percorrem as ruas da cidade histórica, levando imagens sagradas e símbolos da fé cristã.
As procissões são organizadas pelas irmandades, que são associações religiosas formadas por membros da comunidade. Cada irmandade tem o seu próprio estilo, história e traje, que refletem a sua identidade e a sua devoção. Os membros das irmandades, chamados de nazarenos, vestem túnicas e capuzes coloridos, que cobrem o rosto, e carregam velas, cruzes ou outros objetos. Alguns deles também praticam a penitência, que consiste em andar descalços, carregar correntes ou flagelar-se, como forma de expressar o seu arrependimento e a sua gratidão.
As imagens que são levadas nas procissões são chamadas de pasos, que são esculturas de madeira, metal ou outros materiais, que representam cenas da vida de Jesus ou da Virgem Maria. Os pasos são verdadeiras obras de arte, que impressionam pela sua beleza e pelo seu realismo. Eles são carregados por costaleros, que são homens que se escondem sob os andores, e que suportam o peso e o calor com muito sacrifício e fé. Os costaleros são guiados por um capataz, que é o responsável por coordenar os movimentos e os ritmos da procissão.
As procissões são acompanhadas por bandas de música, que tocam marchas fúnebres ou alegres, dependendo do momento e do clima da celebração. A música é um elemento essencial para criar a atmosfera de emoção e devoção que caracteriza a Semana Santa em Sevilha. Além disso, as procissões também contam com a participação do público, que assiste, aplaude, reza ou canta saetas, que são canções flamencas que louvam as imagens sagradas.
A Semana Santa em Sevilha é uma experiência única, que mistura fé e cultura, tradição e arte, dor e alegria. É uma forma de conhecer a história, a identidade e a alma de uma cidade que vive intensamente a sua religiosidade. Se você quer viver essa experiência, não deixe de planejar a sua viagem com antecedência, pois a demanda é muito alta e os hotéis e os transportes ficam lotados. E prepare-se para se emocionar e se surpreender com um dos espetáculos mais belos e comoventes que você já viu.
3. Diwali, Índia e Outros Países Asiáticos
Você já imaginou como seria celebrar um festival que dura cinco dias, envolve milhões de pessoas, e tem como símbolo principal a luz? Essa é a essência do Diwali, uma das celebrações mais importantes do hinduísmo, que também é praticada por outras religiões como o budismo, o jainismo e o sikhismo.
O Diwali, que significa “fileira de luzes” em sânscrito, é comemorado no mês de outubro ou novembro, de acordo com o calendário lunar hindu. Cada dia do festival tem um significado diferente, mas todos eles estão relacionados à vitória do bem sobre o mal, da luz sobre as trevas, e da sabedoria sobre a ignorância.
O primeiro dia, chamado de Dhanteras, é dedicado à prosperidade e à riqueza. As pessoas compram objetos de metal, como joias, utensílios e moedas, e os colocam em um lugar de destaque em suas casas. Também acendem lamparinas de barro, chamadas de diyas, para atrair a deusa Lakshmi, a deusa da fortuna.
O segundo dia, chamado de Naraka Chaturdashi, é o dia em que o demônio Narakasura foi derrotado pelo deus Krishna. As pessoas tomam um banho antes do nascer do sol, vestem roupas novas e coloridas, e fazem oferendas aos deuses. Também limpam e decoram suas casas com flores, rangolis (desenhos feitos com pó colorido) e lanternas de papel.
O terceiro dia, chamado de Amavasya, é o dia mais importante do festival. É o dia em que a deusa Lakshmi visita as casas dos devotos e os abençoa com felicidade e prosperidade. As pessoas acendem milhares de diyas dentro e fora de suas casas, criando um espetáculo de luzes que pode ser visto de longe. Também fazem orações, trocam presentes e doces, e soltam fogos de artifício.
O quarto dia, chamado de Kartika Shuddha Padyami, é o dia em que o deus Vishnu, o preservador do universo, derrotou o rei Bali e o enviou para o submundo. As pessoas celebram a bondade e a generosidade do rei Bali, que aceitou seu destino com humildade e gratidão. Também celebram o amor e o respeito entre irmãos e irmãs, dando presentes e bênçãos uns aos outros.
O quinto e último dia, chamado de Bhai Dooj, é o dia em que o deus Yama, o senhor da morte, visitou sua irmã Yami, que o recebeu com carinho e alegria. As pessoas celebram o laço fraterno entre irmãos e irmãs, que se protegem e se apoiam mutuamente. As irmãs aplicam uma marca vermelha na testa dos irmãos, chamada de tilak, e rezam por sua longevidade e bem-estar.
O Diwali é um festival que celebra a vida, a luz e a esperança. É uma oportunidade para renovar as energias, agradecer pelas bênçãos e compartilhar a alegria com os entes queridos. É também uma forma de conhecer e respeitar a diversidade cultural e religiosa que existe na Índia e no mundo. Você vai se encantar com as cores, os aromas, os sabores e as tradições desse festival incrível.
4. Hajj, Arábia Saudita
O Hajj é um dos cinco pilares do Islã, que todo muçulmano deve realizar pelo menos uma vez na vida, se tiver condições físicas e financeiras para isso. O Hajj é a peregrinação à cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita, onde fica a Kaaba, a casa de Deus. O Hajj acontece todos os anos, no último mês do calendário islâmico, chamado de Dhu al-Hijjah. Nesse período, milhões de muçulmanos de todo o mundo se reúnem em Meca para realizar rituais que simbolizam a fé, a unidade e a igualdade.
O Hajj é uma jornada espiritual que remonta aos tempos do profeta Abraão, que foi o primeiro a construir a Kaaba com seu filho Ismael. Segundo a tradição islâmica, Abraão foi testado por Deus, que lhe ordenou que sacrificasse seu filho. Abraão obedeceu, mas no último momento, Deus substituiu Ismael por um carneiro. Esse episódio é celebrado no Eid al-Adha, a festa do sacrifício, que marca o fim do Hajj.
O Hajj também é inspirado na vida do profeta Maomé, que realizou sua peregrinação em 632, um ano antes de sua morte. Maomé estabeleceu os rituais do Hajj, que são seguidos até hoje pelos muçulmanos. O Hajj é uma forma de reviver os passos do profeta e de se aproximar de Deus.
O Hajj dura cerca de cinco dias, e envolve uma série de rituais que devem ser feitos em uma ordem específica. Os principais rituais são:
- Ihram: é o estado de pureza e consagração que o peregrino deve entrar antes de iniciar o Hajj. O peregrino deve tomar um banho, cortar as unhas e os cabelos, e vestir duas peças de tecido branco, sem costura, que simbolizam a simplicidade e a humildade. O peregrino também deve evitar qualquer ato que possa violar o ihram, como mentir, brigar, caçar, cortar as plantas, usar perfume, cobrir a cabeça, ou ter relações sexuais.
- Tawaf: é a circunvolução em torno da Kaaba, que é feita sete vezes, em sentido anti-horário, enquanto se recita orações e se beija ou se toca na Pedra Negra, que fica em um dos cantos da Kaaba. A Pedra Negra é considerada uma relíquia sagrada, que foi dada a Abraão por um anjo. O tawaf representa a adoração a Deus, o centro da vida dos muçulmanos.
- Sa’i: é a corrida entre as colinas de Safa e Marwa, que fica próxima à Kaaba. O peregrino deve percorrer esse trajeto sete vezes, alternando entre caminhar e correr. O sa’i relembra a história de Hagar, a esposa de Abraão, que procurou água para seu filho Ismael, quando foram deixados no deserto por ordem de Deus. Deus fez brotar uma fonte de água, chamada de Zamzam, onde Ismael bateu os pés. O peregrino deve beber dessa água, que é considerada abençoada.
- Arafat: é o dia mais importante do Hajj, que ocorre no nono dia de Dhu al-Hijjah. O peregrino deve ir ao Monte Arafat, que fica a cerca de 20 km de Meca, onde Maomé fez seu último sermão. O peregrino deve permanecer em Arafat desde o meio-dia até o pôr do sol, fazendo súplicas, pedindo perdão e refletindo sobre sua vida. O peregrino deve se sentir como se estivesse no Dia do Juízo Final, quando todos os seres humanos serão julgados por Deus.
- Muzdalifah: é a área entre Arafat e Mina, onde o peregrino deve passar a noite após deixar Arafat. O peregrino deve rezar a oração do anoitecer e a oração da noite juntas, e coletar 49 pedrinhas para o próximo ritual. O peregrino deve dormir ao ar livre, sob as estrelas, em um gesto de confiança em Deus.
- Jamarat: é o ritual de apedrejamento das três colunas que representam o diabo, que fica em Mina. O peregrino deve jogar sete pedrinhas em cada coluna, começando pela maior e terminando pela menor, enquanto recita “Allahu Akbar” (Deus é o maior). O apedrejamento simboliza a rejeição às tentações e aos pecados, e a obediência a Deus. O peregrino deve fazer esse ritual em três dias consecutivos, exceto se tiver pressa, podendo fazê-lo em dois dias.
- Eid al-Adha: é a festa do sacrifício, que acontece no décimo dia de Dhu al-Hijjah, e coincide com o primeiro dia do apedrejamento. O peregrino deve sacrificar um animal, geralmente uma ovelha, um camelo ou uma vaca, em memória do ato de Abraão. O peregrino deve distribuir a carne do animal entre os pobres, os parentes e os amigos, como um gesto de caridade e de solidariedade.
- Tawaf al-Ifadah: é o tawaf da visita, que é feito após o sacrifício do animal. O peregrino deve retornar à Kaaba e fazer mais sete voltas em torno dela, agradecendo a Deus pela oportunidade de realizar o Hajj. Esse tawaf é obrigatório para completar o Hajj.
- Tawaf al-Wida: é o tawaf da despedida, que é feito antes de deixar Meca. O peregrino deve fazer mais sete voltas em torno da Kaaba, se despedindo de Deus e da cidade sagrada. Esse tawaf é recomendado, mas não obrigatório.
O Hajj é importante por vários motivos, tanto religiosos quanto sociais. O Hajj é uma forma de demonstrar a devoção a Deus, seguindo os exemplos dos profetas Abraão e Maomé. O Hajj é uma forma de purificar a alma, pedindo perdão pelos pecados e se comprometendo a ser uma pessoa melhor. O Hajj é uma forma de fortalecer a fraternidade islâmica, convivendo com muçulmanos de diferentes origens, culturas e línguas, sem distinção de classe, raça ou gênero. O Hajj é uma forma de vivenciar a diversidade e a beleza do mundo, conhecendo lugares históricos, sagrados e naturais. O Hajj é uma forma de se conectar com Deus, com a própria essência e com a humanidade.
5. Festival de Wesak, Vários Países Asiáticos
Wesak é o festival religioso mais importante do budismo, pois comemora os três eventos mais significativos da vida de Siddhartha Gautama, o fundador desta religião: o seu nascimento, a sua iluminação e a sua morte. Wesak é celebrado na lua cheia do quarto mês lunar, que geralmente cai em maio ou junho no calendário gregoriano. Neste dia, os budistas de todo o mundo se reúnem para honrar o legado de Buda e praticar os seus ensinamentos.
As celebrações do Wesak variam de acordo com a tradição, a cultura e o país de cada comunidade budista. No entanto, existem alguns elementos comuns que podem ser encontrados em muitos lugares. Por exemplo:
- Os budistas costumam acordar cedo e ir aos templos para participar de cerimônias religiosas, como recitar mantras, meditar, ouvir sermões e fazer oferendas de flores, velas e incenso. Eles também prestam homenagem às imagens de Buda, que são decoradas com flores e iluminadas com lanternas.
- Os budistas praticam o dana, que é o ato de generosidade e caridade. Eles doam alimentos, roupas, dinheiro ou outros bens para os monges, os pobres, os doentes e os animais. Eles também se abstêm de comer carne e de consumir álcool ou drogas, seguindo os preceitos morais do budismo.
- Os budistas expressam a sua gratidão e alegria pelo nascimento, a iluminação e a morte de Buda, que são considerados como bênçãos para toda a humanidade. Eles cantam hinos, tocam instrumentos musicais, dançam e fazem procissões com bandeiras, flores e estátuas de Buda. Eles também soltam balões, lanternas e velas no ar, na água ou no fogo, simbolizando a libertação do sofrimento e a aspiração à iluminação.
O Wesak é importante para os budistas porque é uma oportunidade de relembrar e celebrar a vida e os ensinamentos de Buda, que são a fonte de inspiração e orientação para a sua prática espiritual. O Wesak também é uma ocasião de renovar os seus votos e compromissos com o caminho do budismo, que visa à purificação da mente, à compaixão pelos seres e à realização da sabedoria. Além disso, o Wesak é um momento de compartilhar a felicidade e a paz com os outros, promovendo a harmonia e a fraternidade entre todos os seres.
Esses festivais religiosos oferecem uma visão profunda das tradições espirituais e culturais de diferentes comunidades ao redor do mundo.