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Você sabia que existem lugares incríveis que foram submersas pelas águas ao longo da história? São cidades que guardam tesouros arqueológicos, culturais e naturais, e que podem ser visitadas por quem gosta de mergulho e aventura. Vamos conhecer algumas delas?
1. Villa Epecuén, na Argentina
Villa Epecuén era uma cidade turística na província de Buenos Aires, Argentina, às margens da Laguna Epecuén, a cerca de 600 km da capital. A cidade era famosa pelas suas águas salgadas, que tinham propriedades terapêuticas e curativas para diversas doenças. A cidade chegou a ter mais de 1.500 habitantes e 300 empresas, incluindo hotéis, pousadas, spas, lojas e restaurantes. Era um destino muito procurado por turistas de todo o país e do exterior.
Mas em novembro de 1985, uma tragédia mudou o destino da cidade. Uma forte chuva causou uma onda estacionária, chamada de seicha, que rompeu a barragem que protegia a cidade. A água da lagoa começou a subir rapidamente e inundou toda a cidade. Os moradores tiveram que abandonar suas casas e seus pertences. A cidade ficou submersa por quase 25 anos, até que em 2009, as águas começaram a baixar e revelaram as ruínas da antiga Villa Epecuén.
Hoje, o que se vê é uma paisagem desoladora, com árvores secas, casas destruídas e objetos enferrujados. A água salgada corroeu tudo o que encontrou pelo caminho. A única cor que se destaca é o rosa da lagoa, causado pela presença de micro-organismos que se adaptaram ao ambiente salino. O nível de sal da lagoa é dez vezes maior do que o de qualquer oceano e só perde para o Mar Morto. Eu provei a água e posso dizer que é muito salgada. As minhas mãos ficaram ressecadas e com uma camada de pó branco.
A cidade não foi reconstruída e o único morador que voltou para lá foi Pablo Novak, um senhor de 81 anos que vive sozinho em uma casa simples. Ele é o guardião da memória da cidade e recebe os poucos visitantes que se aventuram por lá. Eu tive a oportunidade de conversar com ele e ele me contou histórias sobre como era a vida em Villa Epecuén antes da inundação. Ele me mostrou fotos antigas e me levou para ver alguns lugares especiais, como a igreja, o cemitério e o matadouro municipal.
2. Pavlopetri, Grécia
Você já imaginou como seria visitar uma cidade que está debaixo d’água há milhares de anos? Pois é, essa é a experiência que Pavlopetri oferece aos viajantes mais aventureiros e curiosos.
Pavlopetri fica na Grécia, na baía de Vatika, no sul do Peloponeso. Ela foi descoberta em 1967 pelo pesquisador Nicholas Flemming, que ficou impressionado com as ruínas que viu no fundo do mar. No ano seguinte, uma equipe de arqueólogos da Universidade de Cambridge mapeou o sítio arqueológico e constatou que se tratava da cidade submersa mais antiga conhecida no mundo, com cerca de 5 mil anos de idade.
O que torna Pavlopetri tão especial é que ela tem um plano urbano quase completo, incluindo ruas, edifícios e tumbas. É como se fosse uma cápsula do tempo que preservou a vida e a cultura dos antigos gregos. Além disso, Pavlopetri era uma cidade próspera e cosmopolita, que mantinha relações comerciais com outras civilizações, como os minoicos de Creta. Isso pode ser comprovado pelos objetos encontrados no local, como utensílios de mesa e grandes jarros de cerâmica.
Mas como essa cidade foi parar debaixo d’água? Os arqueólogos acreditam que ela foi submersa por volta de mil a.C., depois de uma série de terremotos que abalaram a região. Esses fenômenos naturais fizeram com que as estruturas arquitetônicas da cidade permanecessem intactas, sem a interferência humana por milênios.
Hoje em dia, Pavlopetri é um patrimônio cultural e histórico da humanidade, que atrai turistas do mundo todo. Para visitar a cidade submersa, é preciso ter equipamento de mergulho e autorização das autoridades locais. A profundidade varia entre 3 e 4 metros, o que permite uma boa visibilidade das ruínas. É uma experiência única e inesquecível, que permite entrar em contato com o passado de uma forma surpreendente.
3. Canopus, Egito
Canopus era uma antiga cidade egípcia que ficava próxima à atual Alexandria, a segunda mais populosa do Egito. Ela era um importante centro religioso e comercial, famoso pelos seus templos dedicados aos deuses Serápis e Osíris. Segundo a lenda, o nome da cidade vem de Canopo, o piloto da frota do rei Menelau, que morreu ali após a Guerra de Troia.
Mas o que aconteceu com Canopus? Como ela foi parar no fundo do mar? A resposta é um mistério, mas a hipótese mais aceita é que ela foi afundada por uma grande enchente do rio Nilo, que transformou o solo em lama e fez as construções desabarem. Isso pode ter ocorrido entre os séculos VIII e XII da nossa era.
A cidade submersa de Canopus foi redescoberta em 1933 pelo arqueólogo francês Pierre Montet, que encontrou algumas estátuas e colunas no local. Mas foi somente em 1992 que uma expedição liderada pelo também francês Franck Goddio iniciou uma investigação mais detalhada da área. Desde então, foram encontrados vários objetos e estruturas que revelam a riqueza e a beleza de Canopus.
Entre as descobertas mais impressionantes estão: um enorme santuário de Osíris, com 16 metros de altura e 70 metros de comprimento; uma estátua colossal de granito rosa do faraó Ptolomeu II, com 5,4 metros de altura e 6 toneladas de peso; uma esfinge de alabastro com 1,9 metro de altura e 4 toneladas de peso; um obelisco de granito negro com 6,7 metros de altura e 12 toneladas de peso; e centenas de moedas, joias, cerâmicas, ânforas e outros artefatos.
Visitar Canopus é como mergulhar na história do Egito antigo e admirar a sua arte e cultura. É uma experiência única e inesquecível para quem ama viajar e se aventurar pelo mundo.
4. Shicheng, China
Shicheng significa “Cidade do Leão” em mandarim, e foi construída há cerca de 1.400 anos, durante as dinastias Ming e Qing. Ela era um centro político, econômico e cultural da província de Zhejiang, e tinha uma arquitetura impressionante, com portões, arcos, esculturas e inscrições históricas. Mas em 1959, ela foi inundada propositalmente para a construção de uma usina hidrelétrica, e cerca de 290 mil pessoas tiveram que se mudar da região.
Por muitos anos, Shicheng foi considerada perdida para sempre, até que em 2001 o governo chinês organizou uma expedição para explorar o fundo do lago. Para a surpresa de todos, a cidade estava quase intacta, protegida pela água da erosão do vento, da chuva e do sol. Desde então, várias outras expedições foram realizadas, e algumas fotos incríveis foram divulgadas pela mídia.
Hoje em dia, Shicheng é um destino turístico de aventura para os mergulhadores que querem conhecer essa “Atlântida do Oriente”. Mas não é uma tarefa fácil: a cidade está a cerca de 40 metros de profundidade, e é preciso ter experiência em mergulho profundo, noturno e com controle de flutuação. Além disso, nem todas as partes da cidade foram mapeadas, e há o risco de se perder ou ficar preso em alguma estrutura.
Mas quem se arrisca a mergulhar em Shicheng diz que vale a pena. É uma sensação única de viajar no tempo e testemunhar uma parte da história chinesa que poucos têm acesso. É como entrar em um museu subaquático, onde cada pedra tem uma história para contar.
5. Heracleion, Egito
Heracleion era uma cidade portuária que floresceu entre os séculos VIII e II a.C., sendo um dos principais centros comerciais e religiosos do Egito. Era lá que os novos faraós recebiam a bênção do deus Amun, o senhor dos ventos e das águas, para legitimar o seu poder. A cidade era conhecida pelos gregos como Heracleion, em homenagem ao herói Hércules, que teria visitado o lugar em uma de suas aventuras.
Mas o que aconteceu com essa cidade maravilhosa? Por que ela desapareceu do mapa e da memória? A resposta é um mistério que ainda intriga os arqueólogos. Acredita-se que algum cataclismo natural, como um terremoto, um tsunami ou uma elevação do nível do mar, tenha feito com que a cidade ficasse submersa nas águas do Mediterrâneo, levando consigo seus tesouros e segredos.
A cidade permaneceu esquecida por mais de dois mil anos, até que em 1999, o arqueólogo francês Franck Goddio e sua equipe encontraram os primeiros vestígios da cidade submersa na baía de Abu Qir, a cerca de 6,5 quilômetros da costa de Alexandria. Desde então, eles vêm realizando escavações submarinas que revelaram uma riqueza impressionante de artefatos históricos e culturais.
Entre as descobertas estão estátuas colossais de faraós, deuses e animais sagrados, como esfinges e leões; moedas de ouro e bronze; joias; vasos; âncoras; e mais de 60 navios antigos, alguns dos quais nunca haviam sido vistos antes. Um dos achados mais notáveis é uma pedra de granito negro com inscrições hieroglíficas que datam do século IV a.C., considerada mais antiga do que a famosa pedra de Roseta.
Heracleion é uma verdadeira cápsula do tempo que nos permite conhecer melhor a vida e a cultura do Egito antigo. É também um exemplo de como a natureza pode mudar o destino das civilizações e esconder seus mistérios no fundo do mar. Quem sabe quantas outras cidades submersas ainda esperam ser descobertas?
6. Dwaraka, Índia
Dwaraka é uma das sete cidades sagradas da Índia Antiga, que são mencionadas nos textos sagrados como o Mahabharata, o Srimad Bhagavatam e o Vishnu Purana. A cidade era conhecida como a “Cidade Dourada” por sua grandiosidade e beleza, e era um porto movimentado que tinha relações comerciais com muitos outros países. Dwaraka era também uma cidade bem planejada e tecnologicamente avançada, que tinha muitas portas e muralhas para protegê-la dos inimigos.
Segundo a lenda, Dwaraka foi construída por Krishna, que fugiu do reino de Surasena por medo do rei Jarasandha de Magadha, que queria matá-lo. Krishna escolheu a região da costa oeste da Índia, em Gujarat, para estabelecer a dinastia dos Yadavas, um clã de chefes que eram seus parentes. Krishna governou Dwaraka como um príncipe rico e sábio, e realizou muitos feitos heroicos e milagrosos. Ele também participou da famosa guerra do Kurukshetra, que é narrada no épico Mahabharata.
No entanto, o destino de Dwaraka foi trágico. Após a morte de Krishna, a cidade foi atacada por uma tribo bárbara chamada Abhiras, que saqueou e incendiou a cidade. Os sobreviventes dos Yadavas fugiram para as ilhas vizinhas, mas foram perseguidos pelos Abhiras e se mataram uns aos outros em uma guerra civil. A cidade então foi submersa pelo mar, como uma maldição divina pela morte de Krishna.
Durante muito tempo, Dwaraka foi considerada uma lenda, mas nos últimos anos foram feitas descobertas arqueológicas que comprovam a sua existência. Em 1963, o arqueólogo marinho S.R. Rao iniciou uma série de escavações submarinas na costa de Gujarat, e encontrou ruínas de edifícios, muralhas, portas, âncoras, moedas, cerâmicas e outros artefatos que datam da época de Krishna. As escavações continuaram até 2002, revelando mais evidências da antiga civilização que habitou Dwaraka.
Essas são apenas algumas das cidades submersas pelo mundo, mas existem muitas outras que guardam histórias e mistérios fascinantes. Cada uma delas tem uma história única, que nos faz viajar no tempo e na imaginação. E você, teria coragem de mergulhar em alguma dessas cidades submersas?